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Resgate do Centro de Santos

A grande maioria dos centros das cidades do mundo passou por processos de esvaziamento, num movimento centrífugo de saída de seus antigos moradores para áreas mais distantes. Estes processos são quase sempre acompanhados da deterioração urbana destes centros, que costumam abrigar construções importantes da história das cidades.

Vejamos o Centro de São Paulo, a maior cidade da América do Sul. São Paulo, em 1980, tinha 8,5 milhões de habitantes, sendo 3,1 milhões morando em bairros que tecnicamente pertencem ao chamado centro ampliado. Outros 5,4 milhões viviam no restante da cidade.

Se o crescimento tivesse sido uniforme, seguindo a proporção de 1980, o Centro deveria ter, hoje, 4,5 milhões de habitantes, mas tem 2,8 milhões. Ou seja, perdeu 1,7 milhão de pessoas. Já o resto da Cidade deveria ter 5,5 milhões, caso a expansão tivesse sido proporcional. Mas, de fato, tem hoje 9,5 milhões de residentes.

Em 20 anos, o centro ampliado de São Paulo passou a registrar 10.200 habitantes por km2, enquanto que os bairros mais afastados apresentam uma densidade demográfica de 14 mil pessoas por km2. Contra este movimento de fuga do Centro, São Paulo passou agora a ousar, ao incentivar a construção de prédios residenciais modernos.

Este processo de esvaziamento, no Centro de Santos, por exemplo, aconteceu muito antes, quando os antigos habitantes se mudaram para a Vila Mathias, Macuco, Campo Grande e outros bairros, chegando até às praias. Hoje, apenas uma parte ínfima da população mora no Centro e imediações.

Como em São Paulo, o Centro de Santos tem seu valor histórico, turístico, paisagístico e vem sendo alvo de esforços de revitalização, com a restauração de alguns imóveis, incentivo à vida cultural e outras importantes ações.

Apesar disso, falta muito, mas muito mesmo, para o Centro de Santos ser plenamente reintegrado ao contexto urbanístico e, principalmente, social da Cidade de Santos.

Está na hora de dos gestores públicos pensarem na possibilidade de uma virada neste jogo, em uma iniciativa que possa trazer vida ao Centro de Santos. Uma das ações poderia ser incentivar ousados projetos construtivos e de reformas voltados à moradia, como forma de reverter o quadro de abandono e esvaziamento que assistimos há décadas.

Temos que assumir o desafio de propor alterações na legislação local, de examinar a situação documental de cada propriedade e avaliar os imóveis que podem e os que não têm mais condições de permanecerem tombados.

Estas e outras providências poderiam ser tomadas, acompanhadas por um debate corajoso, envolvendo os especialistas no tema. Seria o ponto de partida para enfrentarmos o desafio de resgatar o Centro de Santos em bases factíveis, que levem em conta nossas limitações e realidade econômica.

Caso contrário, se não quebrarmos paradigmas e nada for feito em escala maior, continuaremos assistindo à resistência louvável de alguns abnegados, que tentam manter vivo um dos mais belos e importantes centros históricos do País.

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