É Carnaval, mas tenho de me manifestar sobre a reportagem que foi publicada no jornal A Tribuna de domingo e que cita a intenção da nova diretoria da Codesp de voltar a utilizar a área dos armazéns 1 ao 8 do porto, no Valongo, abandonada há décadas, para a movimentação de cargas. Quem acompanha o dia a dia da região sabe que há 20 anos os moradores pleiteiam revitalização do espaço para se integrar à vida cultural de Santos. Propostas surgiram ao longo do tempo, mas os altos custos sempre inviabilizaram os projetos.
Uma nova esperança surgiu em abril de 2018, quando a direção da Codesp e o Ministério Público do Estado assinaram um (TAC) ( Termo
de Ajustamento de Conduta). O acordo estabelecia a recuperação dos armazéns 1 ao 4 e a demolição do 5 ao 8. A ideia era implantar um complexo de lazer e turismo. O prazo para o início dos trabalhos era de 120 dias. A solenidade de assinatura do documento foi acompanhada pela imprensa.
Na época, a Câmara de Santos fez uma audiência pública para cobrar explicações da Codesp sobre o TAC . Durante os debates, foi alertado para que o poder público municipal participasse das decisões já que havia projetos de revitalização da área central elaborados pela Prefeitura de Santos.
O que aconteceu de lá pra cá? Uma parte da história sabemos: o prazo se esgotou e em vez de avançarmos, a novidade foi prisão do antigo presidente da Companhia Docas.
Agora, no início de uma nova gestão, a surpresa é a notícia de que o TAC não está nem registrado nos arquivos da Codesp e que a intenção do novo presidente, Casemiro Tércio Carvalho, é a de voltar a utilizar a área para a movimentação de cargas.
Onde estão os documentos e o acordo firmado que garantiam a destinação do espaço ? Onde está o Ministério Público para defender os interesses da cidade? Depois de 20 anos de luta para que os armazéns, abandonados pela Codesp, fossem incorporados ao lazer e a vida dos santistas, vamos aceitar que a Codesp não considere a vontade da população?
Os portos mais eficientes do mundo construíram uma relação de harmonia e interação nos locais onde estão situados. Citarei apenas uma das muitas visitas que fiz. O Porto de Oakland, na Califórnia, EUA, além da redução da emissão de poluentes no ar com o incentivo e descontos para os operadores que investissem na renovação da frota caminhões e nas fontes de geração de energia limpa, criou um projeto que tornou a cidade amiga do porto. Quem passeia pela região fica impressionado com o amplo espaço de lazer e entretenimento integrado aos píeres. Ali, até os índices de violência diminuíram .
Como deputada federal e presidente da frente parlamentar mista do Porto de Santos deixo claro que não fui eleita para assistir a isso de braços cruzados. Não podemos permitir que as velhas práticas continuem. A utilização do Cais do Valongo para fins turísticos é uma luta que a cidade trava há décadas e que se não for viabilizada pelo TAC, precisa vir de outra forma.
Queremos uma parceria. O porto tem que ser irmão da cidade. Até hoje, o que temos visto nessa relação de parentesco é a de um cunhado ingrato. Come, dorme, sai a hora que quer e não participa da manutenção da casa. O Porto de Santos não dará as costas para a cidade mais uma vez, porque essa história os santistas já conhecem de muitos carnavais!
#CaisdoValongo #RosanaValle