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O apito do trem ainda ecoa em nossos corações

Ouvi muitas histórias do trem que saía de Santos, passava por todo o Litoral Sul, e chegava ao Vale do Ribeira, até Cajati. Conheço pessoas que têm lembranças memoráveis das viagens que fizeram com seus pais no famoso Expresso Ouro Branco, um trem de passageiros charmoso, que fez muita gente conhecer nosso Litoral Sul e se encantar com suas belezas.

Ainda existem nas gavetas de muitas casas da nossa região fotos antigas de viagens proporcionadas por esta linha férrea, hoje abandonada. Românticas e saudosas recordações que teimam em nos emocionar. Nos fazem lembrar que o trem, sim, é um importante meio de transporte, que foi lamentavelmente esquecido no Brasil. Mas é pelos trens que grande parte das viagens são feitas até hoje na Europa.

Então, por emoção e também por senso prático, resolvi lutar pela retomada do Ramal Ferroviário Cajati-Santos.

Temos agora uma oportunidade única de retomar a linha com a devolução do ramal, pela Concessionária Rumo, ao Governo Federal. A Rumo, que não utilizou ramal no período que deteve a concessão, terá que, além de devolvê-lo ao Governo Federal, pagar uma indenização, estimada em R$ 300 milhões.

O Ramal Cajati-Santos, cuja história remonta a 1915, com quase 232 Km, ficou de fora da concessão da malha ferroviária paulista. Mas seu potencial, por cortar o Vale do Ribeira, região entre as metrópoles de São Paulo e Curitiba, continua a despertar interesse, tanto no aspecto econômico como turístico.

Reuni-me com a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Metrô, que abriga técnicos entusiasmados com o transporte sobre trilhos, que acreditam no potencial de uso misto do ramal (cargas e passageiros).

Eles entendem que a retomada pode ocorrer a partir de uma nova concessão, a ser destinada, por exemplo, a uma Parceria Público Privada (PPP), que incluiria empresários, produtores rurais, prefeituras e o Governo Federal.

Já pedi uma audiência com o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, sobre a possibilidade de utilização destes recursos da indenização para a realização de um Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica da reativação do ramal, que indicaria os melhores caminhos e formatos para a retomada desta linha.

Os técnicos que ouvi, a princípio, acreditam que a melhor opção é reativar o ramal por trechos, na modalidade que eles chamam de short-line, que já tem alguns exemplos de sucesso em outras regiões do País. A priori, eles defendem o uso de locomotivas a diesel. Explicaram que o sistema elétrico é muito caro, complexo, e inviabilizaria a reativação.

Argumentaram que há interesse da exploração do serviço de cargas e que há também potencial para o transporte de passageiros entre as cidades do Vale do Ribeira e Litoral Sul, tanto na vida cotidiana dos moradores, como também para fins turísticos.

O modelo da reativação da linha deve incluir todos os interessados, como o Governo Federal, a iniciativa privada e as empresas que operam o transporte público intermunicipal e municipal nas cidades. Isso para que seja estabelecida uma integração do ramal com todo o sistema de mobilidade regional.

Este sonho é antigo. Muitas reuniões com lideranças já foram feitas a respeito. Mas quero renovar esta esperança. Já conversei a respeito com o presidente da República, Jair Bolsonaro, quando nos encontramos no Guarujá. O presidente considerou o ramal como uma grande oportunidade de reativação dos trens no Brasil, a partir deste exemplo do Vale do Ribeira, região onde cresceu e ainda mora sua mãe e seu irmão.

Por isso, quero falar com o ministro Tarcísio. Acredito que temos uma oportunidade única de reativação deste ramal, que, por décadas, serviu gerações de usuários no Litoral Sul e Vale do Ribeira.

Afinal, o apito do trem, que por mais de meio século, transportou passageiros entre a Baixada Santista e o Vale do Ribeira, ainda ecoa nas encostas dos morros, nos vales e em nossos corações.

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