Quando você come um peixe num restaurante, ou mesmo em casa, depois de comprá-lo na peixaria, muitas vezes não sabe todo o esforço do pescador para lhe trazer este rico alimento. O pescador, além de arriscar a vida no mar, traz consigo um conhecimento milenar, transmitido por gerações, que contribui para o sucesso da pesca.
O pescador ouve do pai, do avô, dos mais velhos, as lições sobre as marés, os ventos, as fases da lua, o comportamento dos peixes, a migração dos cardumes. É um aprendizado diário, prático, com todas as características de uma ciência, só que eles não usam microscópios nem jalecos.
Mas sabem que aquela água mais densa, mais carregada de nutrientes, repleta de zooplâncton e fitoplâncton, é que atrai o peixe. Sabem que a troca de matéria orgânica entre o mangue e o mar garante a riqueza e a biodiversidade nos estuários, praias, costões, em toda a plataforma continental.
Percebem quando as primeiras frentes frias, empurradas pela Corrente das Malvinas, trazem os cardumes de tainhas do Sul no inverno, junto com as sororocas e anchovas, miraguaias. Sabem que a Corrente do Brasil, sinalizada pela “lestada”, por conta do vento do quadrante Leste, traz os peixes de verão, como a pescada, o robalo, a caratinga, o xaréu, a guaivira e tantos outros.
Estes apenas alguns exemplos do conhecimento dos pescadores, não muito reconhecidos aqui pelo Litoral de São Paulo, mas que os catarinenses, por exemplo, decretaram como patrimônio cultural na figura dos simpáticos “manezinhos”, os homens do mar do Sul, descendentes de açorianos, hábeis nas canoas, na arte de jogar tarrafa e de ler os sinais do mar.
Digo tudo isso porque temos, aqui perto, em Peruíbe, um grupo de pescadores que está precisando da nossa ajuda. Eles tiveram suas embarcações afetadas pelo “ciclone bomba”, que atingiu a região semanas atrás. São apenas 12 barcos que precisam ser recuperados, reconstruídos, resgatados, para que eles possam a voltar a pescar.
Os pescadores do Rio Preto, de Peruíbe, tiveram grande ajuda da comunidade em alimentos e solidariedade. Mas precisam das autoridades para recuperar seus barcos e voltar a trabalhar com dignidade. Necessitam também de uma rampa para poderem puxar suas embarcações do rio para fazerem os reparos.
Por isso, apelei ao secretário Nacional da Pesca, Jorge Seif, para que estude uma ajuda para estes valorosos pescadores. Apelo a Jorge Seif e ao Governo Federal para que atendam este pedido. Para que olhem para estes homens e mulheres do mar, da Colônia Z-5 de Peruíbe. Eles representam mais que uma atividade. São parte de uma cultura que precisa ser preservada, como muitos países e governos já perceberam.