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A multidão está só

Páscoa, para os cristãos, é a celebração da ressurreição de Jesus Cristo. Antes do cristianismo, os judeus já comemoravam, na mesma época, a fuga dos hebreus do Egito, depois de 400 anos de escravidão. Ou seja, a Páscoa representa sempre uma passagem, vida nova, mudança.

Além destas importantes visões religiosas e filosóficas sobre um novo tempo, temos também que agir em busca de uma profunda transformação, especialmente agora que estamos vivendo uma Páscoa inédita em nossas vidas.

Muitos dizem que nada será como antes; que após vencermos o coronavírus, renasceremos melhores, mais solidários, menos egoístas. Será? Espero que sim. Temos que tentar, que questionar nossa realidade.

Por que estamos tão ameaçados por este vírus? Será que devemos refletir e também tomar providências práticas para mudar nossos hábitos e as cidades em que vivemos?

O processo de desenvolvimento urbano mundial resultou em cidades que chegam a concentrar 5, 10, até 20 milhões de habitantes.

Temos cada vez mais pessoas vivendo aglomeradas nas grandes metrópoles, apertadas no transporte público, espremidas em ambientes que favorecem a disseminação de doenças, como a Covid-19.

Como se não bastasse o confinamento físico, imposto por um modelo de desenvolvimento urbanístico enclausurante, temos ainda o implacável isolamento social, que nos divide em camadas, em patamares de classes, como em andares de um prédio que a cada dia mais nos separa por condições econômicas.

Este sistema, que agora se revela ainda mais perverso, não se dá por ideologia ou por tendências políticas, visto que predomina em países com ou sem democracia. Wuhan e Nova Iorque são superadensadas e foram atingidas duramente pelo coronavírus.

As nossas cidades excludentes, marcadas pelo paradoxo de aglomeração com isolamento social - antes ou depois do coronavírus - são fruto do nosso modelo urbanístico, e não de imposições totalitárias de esquerda ou de direita.

Aquela percepção de se sentir só na multidão nunca foi tão real. Estamos agora confinados em cidades populosas. Uma multidão solitária.

O descaso com o meio ambiente e a crescente supressão de habitats e florestas nos trouxeram de volta doenças antes consideradas extintas e restritas aos animais silvestres, como a malária, a febre amarela, a dengue e outras ainda desconhecidas.

Só agora, diante da pandemia, levamos a sério a prática do home office, que tira milhares de pessoas dos congestionamentos, das filas e das rotinas claustrofóbicas e contaminantes.

Temos que redimensionar nossos projetos de cidades. Na nossa região, por exemplo, há décadas vemos o crescimento das moradias em áreas de risco. Gerações de jornalistas passaram suas vidas noticiando deslizamentos e mortes enquanto o ritmo de construção das moradias populares não acompanha a expansão das submoradias.

Está mais do que na hora de ações para melhor distribuir o crescimento urbano, descentralizando investimentos. Não adianta superpopulações concentradas em algumas capitais e a maioria dos municípios sem contingentes que viabilizem suas atividades econômicas.

Precisamos enfrentar nossos problemas sanitários e ambientais, aprimorar nossos hábitos de higiene e investir mais em ciência para conter a crescente ameaça das pandemias.

É urgente melhorar a estrutura dos nossos hospitais e sistemas de saúde. Esta semana tive a satisfação em destinar, por meio de emendas, R$ 4 milhões, para os hospitais Guilherme Álvaro, Estivadores, para a saúde de Bertioga e a Casa da Esperança. Mais recursos estão por vir.

Chegou a hora de tentarmos, sim, mudar o mundo e de começarmos a construir uma verdadeira passagem. Esta é a mensagem que a Páscoa hoje nos traz.

Não podemos deixar a multidão só!

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