
Em 1932, São Paulo se levantou contra um governo centralizador. Lutava-se por uma Constituição — por regras claras, por participação popular, por dignidade institucional. A Revolução Constitucionalista foi tudo isso. Mas não só.
Tem uma parte dessa história que não costuma entrar nos discursos oficiais nem ganhar estátua na praça: a parte das mulheres.
Sim, elas estavam lá.
Não nas trincheiras com fuzis, mas nas costuras das fardas, nos curativos, nos comitês improvisados. Estavam nos bilhetes que levantavam o moral, nas alianças entregues como ouro, nas mãos calejadas que cozinhavam para os soldados e escreviam manifestos à máquina.
Não vestiam uniforme, mas estavam em guerra.
E olha que ironia bonita da história: no mesmo 1932 em que as mulheres tomavam as rédeas da resistência em São Paulo, o Brasil reconhecia — finalmente — o direito ao voto feminino. Coincidência? Duvido. Aquelas mulheres não pediram licença: ocuparam.
Às vezes penso nessas figuras anônimas como sementes lançadas no concreto. Ninguém dava nada por elas. Mas insistiram. Realizaram. E hoje, cada uma de nós que se atreve a entrar numa sala de reunião, num plenário, num debate público, leva um pedaço da coragem que elas nos deixaram.
É por isso que 09 de Julho me comove. Porque não é só uma memória paulista — é um lembrete nacional de que cidadania não é um presente, é uma conquista. E, pra nós mulheres, é sempre dupla.
Hoje, a gente não precisa mais entregar alianças — mas ainda entrega muito. Tempo. Energia. Convivência com filhos e pais doentes. Equilíbrio em salto alto. Voz em meio ao ruído. Um país que ainda não entendeu que mulher que participa da política não é “intrometida”. É indispensável.
Quando eu estou na tribuna ou votando um projeto difícil, gosto de pensar que carrego esse legado. Das que não puderam discursar, mas fizeram história em silêncio.
A Revolução de hoje não tem cheiro de pólvora. Mas continua sendo uma batalha. Nas redes sociais, onde as vozes femininas são alvejadas com ofensas. Nos partidos, onde somos minoria.
Mas a gente segue. Com outras armas.E com a mesma coragem.
Que 09 de Julho continue sendo isso:
Memória, sim. Mas, principalmente, missão.